terça-feira, 31 de maio de 2011

UTILIZANDO CURIOSIDADES E JOGOS MATEMÁTICOS EM SALA DE AULA


Claudia Lisete Oliveira Groenwald
Ursula Tatiana Timm
  Resumo
Este artigo resultou de uma pesquisa realizada na Universidade Luterana do Brasil, no curso de Licenciatura em Matemática. Enfatiza a importância dos jogos e desafios como metodologia de ensino nas aulas de Matemática que necessitam, para poder jogá-los, da utilização de conhecimentos matemáticos. Enfatiza que os mesmos quando convenientemente preparados, são um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento matemático.

  Curiosidades e Jogos matemáticos como recurso didático
Ensinar matemática é desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Nós, como educadores matemáticos, devemos procurar alternativas para aumentar a motivação para a aprendizagem, desenvolver a autoconfiança, a organização, concentração, atenção, raciocínio lógico-dedutivo e o senso cooperativo, desenvolvendo a socialização e aumentando as interações do indivíduo com outras pessoas.
Os jogos, se convenientemente planejados, são um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento matemático. Referimo-nos àqueles que implicam conhecimentos matemáticos.
Vygotsky afirmava que através do brinquedo a criança aprende a agir numa esfera cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações. Segundo ele, o brinquedo estimula a curiosidade e a autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
O uso de jogos e curiosidades no ensino da Matemática tem o objetivo de fazer com que os adolescentes gostem de aprender essa disciplina, mudando a rotina da classe e despertando o interesse do aluno envolvido. A aprendizagem através de jogos, como dominó, palavras cruzadas, memória e outros permite que o aluno faça da aprendizagem um processo interessante e até divertido. Para isso, eles devem ser utilizados ocasionalmente para sanar as lacunas que se produzem na atividade escolar diária. Neste sentido verificamos que há três aspectos que por si só justificam a incorporação do jogo nas aulas. São estes: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas intelectuais e a formação de relações sociais.
Jogar não é estudar nem trabalhar, porque jogando, a aluno aprende, sobretudo, a conhecer e compreender o mundo social que o rodeia.
Os jogos são educativos, sendo assim, requerem um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais de uma maneira geral. Já que os jogos em sala de aula são importantes, devemos ocupar um horário dentro de nosso planejamento, de modo a permitir que o professor possa explorar todo o potencial dos jogos, processos de solução, registros e discussões sobre possíveis caminhos que poderão surgir.
Os jogos podem ser utilizados pra introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o aluno para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser escolhidos e preparados com cuidado para levar o estudante a adquirir conceitos matemáticos de importância.
Devemos utilizá-los não como instrumentos recreativos na aprendizagem, mas como facilitadores, colaborando para trabalhar os bloqueios que os alunos apresentam em relação a alguns conteúdos matemáticos.
'' Outro motivo para a introdução de jogos nas aulas de matemática é a possibilidade de  diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos falam Matemática, apresentam também um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de aprendizagem.''
(Borin,1996, p.9)
Segundo Malba Tahan, 1968, ''para que os jogos produzam os efeitos desejados é preciso que sejam, de certa forma, dirigidos pelos educadores''. Partindo do princípio que as crianças pensam de maneira diferente dos adultos e de que nosso objetivo não é ensiná-las a jogar, devemos acompanhar a maneira como as crianças jogam, sendo observadores atentos, interferindo para colocar questões interessantes (sem perturbar a dinâmica dos grupos) para, a partir disso, auxiliá-las a construir regras e a pensar de modo que elas entendam.
Moura, 1991, afirma que ''o jogo aproxima-se da Matemática via desenvolvimento de habilidades de resoluções de problemas''.
Devemos escolher jogos que estimulem a resolução de problemas, principalmente quando o conteúdo a ser estudado for abstrato, difícil e desvinculado da prática diária, não nos esquecendo de respeitar as condições de cada comunidade e o querer de cada aluno. Essas atividades não devem ser muito fáceis nem muito difíceis e ser testadas antes de sua aplicação, a fim de enriquecer as experiências através de propostas de novas atividades, propiciando mais de uma situação.
Os jogos trabalhados em sala de aula devem ter regras, esses são classificados em três tipos:
·         jogos estratégicos, onde são trabalhadas as habilidades que compõem o raciocínio lógico. Com eles, os alunos lêem as regras e buscam caminhos para atingirem o objetivo final, utilizando estratégias para isso. O fator sorte não interfere no resultado;
   
·         jogos de treinamento, os quais são utilizados quando o professor percebe que alguns alunos precisam de reforço num determinado conteúdo e quer substituir as cansativas listas de exercícios. Neles, quase sempre o fator sorte exerce um papel preponderante e interfere nos resultados finais, o que pode frustrar as idéias anteriormente colocadas;
   
·         jogos geométricos, que têm como objetivo desenvolver a habilidade de observação e o pensamento lógico. Com eles conseguimos trabalhar figuras geométricas, semelhança de figuras, ângulos e polígonos.
   
Os jogos com regras são importantes para o desenvolvimento do pensamento lógico, pois a aplicação sistemática das mesmas encaminha a deduções. São mais adequados para o desenvolvimento de habilidades de pensamento do que para o trabalho com algum conteúdo específico. As regras e os procedimentos devem ser apresentados aos jogadores antes da partida e preestabelecer os limites e possibilidades de ação de cada jogador. A responsabilidade de cumprir normas e zelar pelo seu cumprimento encoraja o desenvolvimento da iniciativa, da mente alerta e da confiança em dizer honestamente o que pensa.
Os jogos estão em correspondência direta com o pensamento matemático. Em ambos temos regras, instruções, operações, definições, deduções, desenvolvimento, utilização de normas e novos conhecimentos (resultados).
O trabalho com jogos matemáticos em sala de aula nos traz alguns benefícios:
·         conseguimos detectar os alunos que estão com dificuldades reais;
·         o aluno demonstra para seus colegas e professores se o assunto foi bem assimilado;
·         existe uma competição entre os jogadores e os adversários, pois almejam vencer e par isso aperfeiçoam-se e ultrapassam seus limites;
·         durante o desenrolar de um jogo, observamos que o aluno se torna mais crítico, alerta e confiante, expressando o que pensa, elaborando perguntas e tirando conclusões sem necessidade da interferência ou aprovação do professor;
·         não existe o medo de errar, pois o erro é considerado um degrau necessário para se chegar a uma resposta correta;
·         o aluno se empolga com o clima de uma aula diferente, o que faz com que aprenda sem perceber.
Mas devemos, também, ter alguns cuidados ao escolher os jogos a serem aplicados:
·         não tornar o jogo algo obrigatório;
·         escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas, permitindo que vença aquele que descobrir as melhores estratégias;
·         utilizar atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação social;
·         estabelecer regras, que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;
·         trabalhar a frustração pela derrota na criança, no sentido de minimizá-la;
·         estudar o jogo antes de aplicá-lo (o que só é possível, jogando).

Temos de formar a consciência de que os sujeitos, ao aprenderem, não o fazem como puros assimiladores de conhecimentos mas sim que, nesse processo, existem determinados componentes internos que não podem deixar de ser ignorados pelos educadores.
Não é necessário ressaltar a grande importância da solução de problemas, pois vivemos em um mundo o qual cada vez mais, exige que as pessoas pensem, questionem e se arrisquem propondo soluções aos vários desafios os quais surgem no trabalho ou na vida cotidiana.
Para a aprendizagem é necessário que o aprendiz tenha um determinado nível de desenvolvimento. As situações de jogo são consideradas parte das atividades pedagógicas, justamente por serem elementos estimuladores do desenvolvimento. É esse raciocínio de que os sujeitos aprendem através dos jogos que nos leva a utilizá-los em sala de aula.
Muitos ouvimos falar e falamos em vincular teoria à prática, mas quase não o fazemos. Utilizar jogos como recurso didático é uma chance que temos de fazê-lo. Eles podem ser usados na classe como um prolongamento da prática habitual da aula. São recursos interessantes e eficientes, que auxiliam os alunos.
Entre os recursos didáticos citados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) destacam-se os ''jogos''. Segundo os PCN, volume 3, não existe um caminho único e melhor para o ensino da Matemática, no entanto, conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática.
''Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver''.
(PCN, 1997,48-49)
Entendemos, portanto, que a aprendizagem deve acontecer de forma interessante e prazerosa e um recurso que possibilita isso são os jogos. Miguel de Guzmán, 1986, expressa muito bem o sentido que essa atividade tem na educação matemática: ''O interesse dos jogos na educação não é apenas divertir, mas sim extrair dessa atividade matérias suficientes para gerar um conhecimento, interessar e fazer com que os estudantes pensem com certa motivação''.


Bibliografia:

BORIN,J.Jogos e resolução de problemas:uma estratégia para as aulas de matemática.São                 Paulo:IME-USP;1996.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.Parâmetros Curriculares Nacionais.Brasília:MEC/SEF,1997.
FERRERO,L.F.El juegoy la matemática.Madrid:La Muralla,1991.
GUZMÁN, M. de. Aventuras Matemáticas. Barcelona:Labor,1986.
MOURA, M. O. de. A construção do signo numérico em situação de ensino.São Paulo:USP,1991.
TAHAN, M. O homem que calculava. Rio de Janeiro:Record,1968.

Cláudia Lisete Oliveira Groenwald, orientadora, professora titular do Departamento de Matemática da Universidade Luterana do Brasil - Ulbra, Canoas/RS. Drª em Ciências da Educação pela Pontifícia de Salamanca - Espanha.
Ursula Timm, formanda em Matemática pela ULBRA, Canoas/RS. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Batalhas numéricas

Estes jogos de baralho geram partidas animadas, em que turmas de pré-escola aprendem sobre a posição dos números

QUEM GANHOU? Em números de vários algarismos, o primeiro determina qual é o maior. Foto: Kriz Knack
Foto: Kriz Knack
QUEM GANHOU? Em números de vários
algarismos, o primeiro determina qual
é o maior. Fotos: Kriz Knack
Muito antes de frequentar a escola, a garotada tem contato com o sistema numérico: em agendas de telefones, porta das casas, preços de produtos e painel de elevadores. Essa familiaridade permite elaborar hipóteses sobre eles e criar teorias próprias para entendê-los. Porém, nem sempre elas estão corretas. Por exemplo: qual é o maior, 99 ou 101? Algumas crianças de 4 a 6 anos podem comparar apenas os primeiros algarismos e deduzir que 99 é maior, pois tem algarismos de valor absoluto superior aos algarismos de 101. Para que elas entendam o valor posicional, proponha dois jogos que suscitam a reflexão e o aprendizado. Os jogos Batalha Simples e Batalha de Composição (leia regras na seqüência didática no quadro abaixo) vão ajudá-las a descobrir a resposta com facilidade.
Não use o baralho tradicional, pois ele traz as figuras correspondentes ao número e não é interessante que os pequenos contem esses elementos para chegar à resposta. Confeccione as cartas numeradas de 0 a 9 com cartolina e encape-as com plástico adesivo transparente.

Durante a disputa, os grupos comparam os números e discutem qual é o maior para saber quem ganhou. Para Emelisa Sebastiana de Castro Monteiro, orientadora pedagógica da EMEI Luiz Sundfeld, em São José dos Campos, a 94 quilômetros de São Paulo, o importante é o debate que todos fazem antes de chegar a um consenso. Na maioria das vezes, eles alcançam sozinhos a solução. 

Para não interromper a partida, anote os problemas que você detectar para comentar depois. Ajuda no aprendizado ter na sala uma tabela com números de 0 a 100 ou um calendário. Ambos podem ser utilizados como referência na busca pela ordenação.


Na EMEI Luiz Sundfeld, a Batalha Simples é apresentada às turmas de 4 e 5 anos e a de Composição, às de 6. Aumentamos as possibilidades de agrupamento numérico ao 
perceber que o jogo fica fácil para os participantes, conta a professora Maria de Fátima Silva Piacesi. 

É importante conhecer as estratégias que os pequenos geralmente já utilizam para comparar números de mais de um algarismo. A mais simples: quanto maior a quantidade de algarismos, maior é o número. Quando ele tem igual quantidade de algarismos, alguns já deduzem que o maior é aquele que tem o primeiro algarismo maior (ou seja, se baseiam na posição que eles ocupam). 

Contraditoriamente, às vezes, as crianças afirmam que é maior o número que tem algarismos mais altos, independentemente da posição. Exemplo: ao comparar 89 e 122, afirmam que 89 é maior porque tem números maiores. Elas se apóiam no conhecimento oral da série numérica, afirmando que é maior o que vem depois. Durante o jogo, você vai perceber que todos esses conhecimentos virão à tona e poderão ajudar a turma avançar fazendo intervenções e questionando as respostas dadas por elas.